terça-feira, 25 de setembro de 2007

BOCA DO CEU 23

Ano VI-abr/mai/jun/2007


O QUE É SER POLITIZADO*


Ser politizado é entender como funcionam as relações de poder em cada sociedade e no mundo em geral. É compreender que, por trás das relações de troca no mercado existem relações de exploração. Que, por trás das relações de voto, existem relações de dominação. Que por trás das relações de informação, há um processo de alienação. Ser politizado, no mundo de hoje, significa compreendê-lo no marco das relações capitalistas de acumulação e exploração, representa entender o mundo no marco da hegemonia imperial estadunidense, baseada na força militar e na propaganda do modo de vida estadunidense. Ser politizado é compreender que tudo que existe foi produzido historicamente, pelas relações entre os homens e o meio em que vivem. Ou melhor, entre os homens, intermediados pelo meio em que vivem. E que, portanto, tudo que foi construído pelos os homens pode ser desconstruído e reconstruído. Que tudo é histórico. Que a própria separação entre sujeito e objeto – que nos aparece como “dada” – é produzida e reproduzida cotidianamente mediante relações econômico-sociais alienadas. Ser politizado é saber subordinar as contradições menores às estratégicas, saber que as contradições com o capitalismo são sempre também contra o imperialismo, pela fase histórica atual do capitalismo.

O QUE É SER DESPOLITIZADO.

Já ser despolitizado é achar que as coisas são como são porque são como são, sempre foram assim e sempre serão. É considerar que as pessoas sempre buscam tirar vantagens que não têm grandeza para lutar desinteressadamente por um mundo melhor. Que o que diferencia as pessoas e a ambição de melhorar de vida, que a grande maioria não tem jeito mesmo. Entre o ser politizado e o despolitizado esta alienação, a falta de consciência da relação entre nós e o mundo. Alienar é entregar o que é nosso para outro -como diz a definição jurídica em relação a bens. Ser alienado é não perceber a presença do sujeito no objeto e vice-versa, sua vinculação indissolúvel. A luta pela emancipação humana é uma luta contra toda forma de exploração, de dominação, de discriminação, mas, antes de tudo e sobretudo, uma luta contra alienação – condição de todas as outras lutas.

EMIR SADER.**

*Extraído da revista Caros amigos

** Cientista político.

QUESTÃO DE PRINCÍPIOS.

Mais um “Club” particular em Uibaí, agora no povoado da Boca D’água. Nada contra alguém construir um espaço privado de lazer, desde que essa pessoa não seja o representante do Executivo Municipal, e o município ser um dos mais carentes de espaços públicos para o lazer coletivo, com apenas o Club Canabrava e a Voz do Povo que, mesmo sendo usado pela grande maioria dos Cidadãos de Uibaí, não são totalmente públicos, foram construídos respectivamente com a contribuição dos sócios e por iniciativa individual. A cidade, tão carente de espaços públicos de lazer, deveria ter em seus representantes a preocupação com quem lhes outorgou o poder de decisão, ao invés de construir mansões tipo Club privados a exemplo do citado acima. Deveriam seguir o exemplo de um também filho de Uibaí que está investindo em projetos educativos com a finalidade de formar cidadãos, sem esboçar, pelo menos até o momento, a vontade de se auto-promover politicamente. É o espírito coletivo que infelizmente em muitos demora a aflorar, acredito que por falta de prática. Fomos criados para viver em sociedade, o senso coletivo e nato do Ser, porém, deve ser exercitado a todo o momento. Em uma sociedade capitalista onde o incentivo ao individualismo é uma de suas grandes bandeiras, devemos estar vigilantes e nos indignarmos com essa prática tão em voga no nosso Município. O papel de um Prefeito é administrar o município direcionando suas ações para as necessidades de sua população. Se todo prefeito que for eleito investir em projetos pessoais, e o pior com dinheiro público, como vem acontecendo há algum tempo, a cidade vai acabar “privatizada”.

a Direita é aquém, a Esquerda é além

O terreno da política sofreu alterações significativas nos últimos 500 anos; momento em que a política perde a sacralidade das intervenções divinas e ganha a terrenalidade das relações humanas. A partir de Maquiavel a política passa a ser entendida eminentemente como atividade humana.

Há, aproximados, 200 anos, no período da Revolução Francesa, ocorrem novas significativas alterações no terreno da política. As movimentações na vida e no quotidiano das pessoas acabam por processar a entrada de algumas categorias importantes na política, tais como: direita e esquerda.

O conceito/categoria de DIREITA foi criado no bojo da Revolução Francesa para indicar o grupo político ou os grupos políticos que nas assembléias e reuniões francesas, tinham posições conservadoras e reacionárias, no sentido de defender e de realizar alianças com o clero e a aristocracia; concretizando de forma cristalina os interesses das elites nacionais. A chamada DIREITA estava preocupada em consolidar os seus interesses tão só e para tanto defendeu e fez conchavos que não radicalizassem o processo revolucionário; surgia um novo-velho país para novas e velhas elites, mas não para o povo.

O conceito/categoria de ESQUERDA, também criado no transcorrer da Revolução Francesa, indicava o grupo político ou os grupos políticos que no processo revolucionário francês lutavam para realizar a igualdade e pelo fim das injustiças, onde os camponeses pudessem ter acesso a terras e os trabalhadores urbanos pudessem ter uma vida digna; defendiam a democracia direta, o controle externo do governo, a revogabilidade dos mandatos, o direito do povo de julgar seus inimigos, controle da economia e a abolição dos direitos feudais. A isto veio somar-se, para uma melhor definição de ESQUERDA, todo o legado de luta em defesa da justiça, da liberdade, da igualdade e da fraternidade de todos os povos e de todos os tempos que pode nos remeter tanto à luta pelo socialismo quanto aos bravos sertanejos de Canudos. É a utopia de um projeto político justo e humano.

Por fim, uma pergunta tempestuosa e intempestiva. E assim se caracteriza por exigir que seja considerada a existência ou a inexistência de um projeto político de justiça e emancipação. Eis a pergunta. Existe esquerda em Uibaí?

Nêgo Fugido

Heterônimo de Savigny Machado

Do tempo do Sr .Messias