segunda-feira, 14 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 38

terça-feira, 8 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 38

BOCA DO CEU 38



Ano X I - Out/nov/dez/2011

VOTO NULO

Acredito que o voto nulo tornou-se nesses últimos anos uma arma poderosa que podemos usar contra o atual sistema político vigente em nosso país. Não quero aqui pregar o voto nulo contra os partidos políticos existentes seja eles caracterizados como de direita, centro ou de esquerda. Não prego o voto nulo por não concordar com os programas políticos do PT do PSDB, ou qualquer outro partido, pois não acho que um partido, mesmo com um programa socialista a exemplo dos partidos de esquerda existentes antes da chegada ao poder como o PT, PSB, PC do B, teriam condições de fazer uma mudança estrutural e iniciar a construção de um Estado socialista sem antes passar pelo modelo capitalista vigente. Sei que não é uma regra esse caminho, mas no caso brasileiro e de alguns países, principalmente da América Latina, essa infelizmente era. Os partidos tidos como de viés socialista no Brasil chegaram ao poder e mantiveram o sistema, com algumas poucas políticas de cunho socialista: liberdade de expressão, fim da censura, pluripartidarismo, liberdade de imprensa, liberdade de organização dos trabalhadores, liberdade de manifestação etc.

Como o “poder tem seus encantos”, essas legendas políticas esqueceram seus programas partidários, queimaram seus estatutos e não se fala mais em socialismo. Essa palavra sumiu do vocabulário político partidário brasileiro. O capitalismo não é tão mal assim, o país diminuiu o desemprego, escolas, hospitais, rodovias, portos, estádios, ferrovias estão sendo construídos, a aprovação do governo chega a mais de 60%, para que mudar? É essa a linha política defendida por todos os segmentos partidários existentes atualmente no poder, ou que lutam para chegar. Mas, onde a proposta de voto nulo entra nesse debate? O voto nulo cabe nesse debate se vir acompanhado com propostas de luta por uma reforma política, através de emendas populares com o respaldo de entidades civis a exemplo da OAB, ABI, GGB, SINDICATOS, MST, CNBB, ONG Transparência Brasil, etc. só assim podemos começar a discutir o modelo político e econômico que o Brasil precisa. Votar nulo porque o salário de sua categoria não foi reajustado, porque o governo não cuida da educação da saúde da segurança, etc., é um protesto válido, mas de pouca serventia, pois o próximo que entrar vai fazer o mesmo, o capitalismo só se mantém com esse modelo administrativo. O voto nulo só tem poder se acompanhado de propostas que possam mobilizar a sociedade como um todo, é acredito que a reforma política vem a ser a bola da vez. Rui Oliveira Machado.

REQUALIFICAR A PRAÇA VELHA.

A Praça Marinho Carvalho, conhecida também por Praça Velha foi por muitos anos o centro boêmio de Uibaí. Era ali o ponto de encontro dos casais de namorados, das paqueras, das várias meotas com pitu e guaraná, da dança no bar de Tonhão, das serenatas nos bancos, das indagas nos botecos acompanhadas de charadas feitas por Gió, Valmizinho, Quinca Gaia, Dimá de Otacílio, etc. Acabou. Não temos mais charadas, as indagas viram brigas, os namoros são por e-mail, dançar só no São João, em outra praça, e olhe lá.

O que fazer para requalificar esse espaço tão marcante em nossas vidas, principalmente para os cinquentões como eu. Podíamos fazer uma praça poética, etílica, boêmia, dançante, com música instrumental ao vivo, com barzinhos bem bolados com espaço para leitura, a biblioteca já existe. Não seria uma boa? Que tal proibir a circulação de carros, nos finais de semana entre as 20:00 hs até o amanhecer? Proibir som que não seja voz e instrumentos. Teríamos um espaço no centro antigo de Uibaí, preservando suas poucas casas ainda existentes e seria um ponto de encontro para todos nos como antigamente. Podemos pensar um projeto, acho até que já existe, correr atrás, procurar a iniciativa privada, a prefeitura, etc. Rui Oliveira Machado.

PS. No São João, Uibaí com uma péssima administração, igual ou pior que as anteriores, segundo Vereador Davi. Três meses depois refiliação do vereador no Partido que administra a cidade. O que teria mudado em tão pouco tempo?

terça-feira, 8 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 34




Ano X/Jan/Fev/Mar/2010

E O VOTO?

Estamos em mais um ano de eleições. Eleições em nível nacional que envolve os seguintes cargos: Presidente, Governadores, Senadores, Deputados: federal e estadual. Há algum tempo atrás estaria defendendo o voto em candidatos honestos e éticos, de preferência pertencentes a partidos que tivessem em seus programas a luta pela implantação de um sistema de governo com ideais Socialistas. Ainda defendo o Socialismo como forma de governo e candidatos honestos e éticos, acredito, também, que, em alguns partidos, com certa dificuldade, é claro, ainda se encontra parlamentares que defendam esses ideais.

Infelizmente esses partidos, para chegarem ao poder, fizeram coligações com o que existe de mais reacionário dentro do que chamamos política partidária. Misturaram-se tanto que hoje, não temos nenhum que defenda essa forma de governo. Apesar de ainda manterem seus programas com linha socialista, apenas para manter o falso discurso.

Assim, o voto que ainda continua sendo uma das mais importantes armas que dispomos, deve ser usado de forma correta, principalmente em uma sociedade capitalista, onde as diferenças sociais são enormes, e os interesses são ainda maiores. Como não temos partidos ideológicos, que trabalhe por uma sociedade mais justa, temos que a cada eleição tentar encontrar candidatos que pelo menos tenham alguma coisa em comum com nossas idéias: que pensem em construir um mundo melhor, com menores diferenças. Sabemos que na atual conjuntura é difícil encontrar cidadãos dentro de algum partido político preocupado com isso, mas não custa procurar, se não encontrarmos temos outras formas de exercer nosso direito de voto. O voto nulo, o voto em branco, e até não comparecer perante a urna. São maneiras de exercer a “democracia”, se o voto é apenas uma das mais importantes armas que temos, precisamos urgentemente procurar trabalhar mais as outras armas que possuímos. Fiscalizar o judiciário, o executivo, o legislativo de nosso município, do estado, do país, denunciando as irregularidades, fiscalizar, participar e contribuir nas decisões que envolva educação, saúde, planejamento social, execução de obras, propondo, colaborando, tentando evitar falcatruas, desmandos, corrupção, etc, são armas que nos dão possibilidades de exercer o direito de cidadão e contribuir para um mundo melhor. Rui Oliveira Machado

MÊS DAS MULHERES

Comemorou-se no último dia 08 de março o Dia Internacional da Mulher, na verdade dia de mulher é todo dia, já que as companheiras trabalham de sol a sol, no campo, na cidade, dentro e fora de casa, e ainda por cima com direitos em sua grande maioria negados.

Felizmente com a luta dessas grandes guerreiras as coisas estão mudando, já temos diversas Delegacias Especializadas em Violência contra a Mulher, temos, em qualquer área, mulheres trabalhando de igual para igual com os homens e em muitos casos superando-os, mas, em uma sociedade machista, como é a nossa, ainda falta muito para pelo menos amenizar o sofrimento dessas valorosas companheiras. Quando avançamos no campo das oportunidades na educação, no trabalho, na igualdade dos direitos, avançamos desordenadamente na violência, na discriminação, no assedio, na falta de respeito, na independência sexual e muitas outras maldades que são praticadas a todo instante. *Notícias sobre violência contra a mulher rotineiramente são apresentadas nos veículos de informação. Segundo dados estatísticos, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. O despertar para o combate à violência contra a mulher ainda se encontra muito discreto, tanto pelo medo da exposição como pela limitação em reconhecer que a violência não é caracterizada só por tapas e porradas.

Nesse mês onde se comemora o Dia Internacional das mulheres, nós homens, precisamos fazer uma autocrítica, parar e pensar como está nosso relacionamento com as companheiras: estaremos sendo machistas, discriminadores, violentos, traidores, etc, etc, etc, etc,...? Como podemos contribuir para mudar esse quadro? Quem sabe assim poderemos trabalhar juntos para a construção de uma sociedade mais justa, onde não seja preciso estabelecer um dia para lembrar que devemos respeitar nossas companheiras.

Rui Oliveira Machado.



BOCA DO CEU 32




Ano IX/Jul/Ago/Set/2009

UIBAÍ E AS OPOSIÇÕES.


Uibaí, desde sua emancipação há 48 anos, sempre conviveu com a oposição. Acredito que nem o primeiro prefeito teve unanimidade, e isso é bom, pois nem toda unanimidade representa o melhor. Na maioria das eleições houve mais de um candidato. Um da ARENA (Aliança Renovadora Nacional) outro do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Partidos não ideológicos, já que os com viés ideológico estavam na ilegalidade, a exemplo do PC do B, PCB, PSB. Com o fim do bipartidarismo e a “abertura política”, no início da década de 1980 surge o Partido dos Trabalhadores. Com uma proposta mais ideológica, voltada para ideais socialistas, foi defendido na maioria dos municípios onde viria a ser fundado, por estudantes, parte da igreja católica e trabalhadores rurais. Em nossa cidade essa oposição cresceu, fez representantes na Câmara municipal, mas só nas eleições do ano 2000, conseguiria disputar com chances potenciais de vitória. Foi “derrotada” nas duas primeiras eleições, 2000 e 2004, só chegando à vitória em 2008.

Hoje, com menos de um ano de mandato já se vê em nosso município, pelo menos duas linhas de oposição ao atual governo: “uma primeira”, como era de se esperar, composta pelos derrotados no último pleito. Apresentam como alternativa política para o município as mesmas propostas e os mesmos candidatos que “governaram” durante as últimas três décadas, propostas e candidatos que o povo já conhece e acredito que não quer tê-los novamente no comando de nossa cidade.

A “segunda linha opositora” é completamente diferente das que existiram tradicionalmente em nosso município, por ter em sua grande maioria cidadãos que contribuíram para a eleição da atual administração, que sabiam da dificuldade de agasalhar sob o mesmo “guarda chuva” o elo de alianças feitas para chegar ao poder. Alianças difíceis de serem digeridas por todos que trabalharam desde o início da primeira campanha.

Essa “segunda linha opositora” não tem, no momento, organização suficiente para fazer uma oposição ideológica baseada em princípios socialistas, como sempre procuraram fazer e que seria o ideal. Assim, ou luta unida para tentar construir, com o que tem uma Uibaí mais justa, sem corrupção, sem nepotismo, sem fisiologismo, ou entrega no próximo pleito a administração aos que sempre defenderam essas práticas. Não pode ficar simplesmente na crítica, sem avaliar o que há de diferente entre essa administração e as anteriores. Quais foram os avanços e os retrocessos desse primeiro ano de governo.

Porque não propor um seminário, encontro ou reunião para discutir esse primeiro ano de governo? Fez-se isso para construir, pode-se fazer o mesmo para avaliar.

Não podemos esquecer que essa “oposição” trabalhou para eleger essa atual administração, e como cidadãos, são também responsáveis pelos destinos de nosso município. Sabemos da existência de muitos problemas: administrativos, financeiros, políticos etc. poderíamos discutir esses problemas na perspectiva de contribuir para construção de uma administração, que possa vir a ser um diferencial nessa primeira década do século XXI. Um sonho de todos nós.

Rui Oliveira Machado

CONCURSO PÚBLICO

Uibaí já vai para o seu segundo concurso público no período de dois mandatos. O primeiro na administração do Prefeito Raul, e o segundo, agora na gestão de Pedro Rocha. Não sei como estão sendo elaborados esses concursos, quais as empresas, ou seja, os trâmites burocráticos, as empresas, etc., O importante é que essa prática democrática, apesar dos problemas, está presente em nosso município. Precisa, sim, ser melhor acompanhada e fiscalizada, para que todos concorram no mesmo patamar.

Com o concurso, chegam também, avanços como a organização dos trabalhadores do serviço público em sindicatos, já que esses não estão mais expostos aos desmandos de políticos interesseiros que fazem da administração pública cabide de empregos para seus apadrinhados. Uibaí já fundou o seu. Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais de Uibaí (não sei se o nome e esse), e com a aprovação na Câmara Federal da Convenção 151, que dá direito aos trabalhadores do setor público à Negociação Coletiva, faltando o Senado aprovar, acredito que o projeto principal, nesse momento, e o fortalecimento do Sindicato, através da organização dos trabalhadores.

Os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, o assédio moral, sexual, etc., são práticas constantes dentro do serviço público, principalmente nos pequenos municípios. Esse é o momento que o movimento sindical precisa tomar pé dessas questões e atuar de forma coletiva. Isso exige organização, conscientização, mobilização para cobrar junto ao Executivo municipal os direitos de seus representados. Não devemos esquecer que patrão é patrão em qualquer lugar, e um dos papeis do patrão é “administrar recursos”. Para administrar são definidas as prioridades, e os trabalhadores, infelizmente não são prioridades para nenhum patrão. A partir de agora, quem representa os trabalhadores públicos municipais de Uibaí é o seu Sindicato, ele está aí para construir junto com os trabalhadores uma nova política de relacionamento com o Poder Executivo. Não uma política do “tomo lá dá cá”, mas uma política baseada na discussão do orçamento municipal, na perspectiva de chegar à elaboração de um Plano de Cargos e Carreira para o conjunto de trabalhadores do nosso município. Acredito que esta seja um dos principais desafios para os trabalhadores do serviço público de nossa cidade. Um novo tempo está surgindo em Uibaí. Precisamos estar preparados. Vida longa a esse Combativo Sindicato.

Rui Oliveira Machado

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 36



Ano X - Jul/ags/setb/2010

PORTAL DA TRANSPARENCIA.

Estamos em um novo tempo. Os avanços tecnológicos permitem-nos estar conectados vinte e quatro horas com o mundo. O acesso a informações, de qualquer tipo, está a cada minuto mais simples podendo ser feita por qualquer cidadão em um computador, instrumento de trabalho distribuído nos mais humildes lugarejos de nosso país nas lan hauses, em escolas públicas, etc. O povo brasileiro, hoje mais consciente, luta por maior transparência nos gastos públicos nas três esferas: Federal, Estadual e Municipal. O governo federal já tem disponibilizado um instrumento onde qualquer cidadão possa acompanhar seus gastos, o Portal Transparência Brasil, alguns estados e municípios também já estão procurando fazer uso desses instrumentos, mas mesmo assim, o percentual de corrupção e desvio de dinheiro público, através de todo tipo de falcatruas, ainda é muito grande. Os exemplos estão aí. No executivo, no Judiciário e no Legislativo de todas as esferas de governos. Desvio com passagens aéreas, com os cartões coorporativos, com o pró Uni, com programa de bolsa família e agora uma nova modalidade, pelo menos foi

o que se noticiou e veio à publico, nesses últimos dias, em nosso querido Uibaí: o desvio via Declaração de Imposto de Renda, não sabemos como é feito, mas o prejuízo nos cofres público e certo.

Já está na hora de trabalharmos para que em nosso município seja adotada essa ferramenta de trabalho, com o intuito de abrir espaço para fiscalizar a aplicação do dinheiro público pelo cidadão, socializando as informações para que através da participação (Orçamento participativo), possamos identificar as prioridades e evitar a corrupção. O trabalhador brasileiro não tem, infelizmente, o hábito de procurar saber onde e de que forma seu dinheiro está sendo aplicado. Não só no governo, mas também em seus sindicatos, associações, no condomínio, no clube, etc. Como não se tinha meios eficazes de realizar esse acompanhamento, delegava-se essa atribuição para uns poucos iluminados. Agora que temos condições concretas de fiscalizar, devemos usar todos os meios disponíveis. Já passou da hora de mudar esse quadro, precisamos estar atentos; questionar, fiscalizar, cobrar a todo o momento quanto e onde estão sendo aplicados os recursos públicos do nosso município. Uibaí, que sempre esteve à frente nessa região no que concerne a avanços e inovações, tem nesse momento a oportunidade de antecipar e disponibilizar suas contas via internet, criando um Portal da Transparência municipal, onde o cidadão possa acompanhar em tempo real os gastos e os investimentos do município. É de fundamental importância que essa Administração, que veio com a proposta de mudança e transparência, assuma esse compromisso até o final desse mandato.

Rui Oliveira Machado

A INSUSTENTAVEL PRECONCEITO DO SER.

Por Rosana Jatobá. *

Era o admirável mundo novo!

Recém chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos. Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:

- Recomendo um passeio pelo nosso “Central Park”, disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!

- Então estarei em casa, repliquei ironicamente.

- Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.

- A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?

- Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem “farofa” no parque.

- Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.

- Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar.

-De fato percebo que não existe intenção de magoar. São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.

Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os “Paraíba”, que, aliás, podem ser qualquer nordestino.

Com ou sem “cabeça chata”, outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.

Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável. Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:

- O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:

“O teu cabelo não nega, mulata

Porque és mulata na cor

Mas como a cor não pega, mulata

Mulata, quero teu amor”.

“É ofensivo”, diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem. A expressão “pé na cozinha”, para designar ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala. O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta: “Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos”. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra “niger” para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:

“Eeny, meeny, moe, catch a niger by the toe”... que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se que diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).

Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra, os negros cunharam o slogan “black is beautiful”. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém”. Será que na era Obama vão inventar “Pé na Presidência”, para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje? A origem social é outro fator que gera comentários tidos como “inofensivos”, mas cruéis. A nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto.

Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:

- A minha “criadagem” não entra pelo elevador social!

E a competência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais? Os termos bichona, frutinha, biba, “viado”, maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo? Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:

- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque! Dependendo do tom do cabelo, demonstração de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:

- Só podia ser loira! Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:

- Só podia ser judeu! A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndegas, baleia...

Gosto muito do provérbio bíblico, legado ao Cristianismo: “O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem”. Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano. A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque, em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorância e alimenta o monstro da maldade. Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcoólatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:

- Só podia ser mendigo! No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata lll detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:

- Só podia ser bandido! Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.

PS. Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos...

*Rosana Jotabá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologia ambientais da Universidade de São Paulo.

Apresenta a previsão do tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo.

BOCA DO CEU 34



Ano X/Jan/Fev/Mar/2010

E O VOTO?

Estamos em mais um ano de eleições. Eleições em nível nacional que envolve os seguintes cargos: Presidente, Governadores, Senadores, Deputados: federal e estadual. Há algum tempo atrás estaria defendendo o voto em candidatos honestos e éticos, de preferência pertencentes a partidos que tivessem em seus programas a luta pela implantação de um sistema de governo com ideais Socialistas. Ainda defendo o Socialismo como forma de governo e candidatos honestos e éticos, acredito, também, que, em alguns partidos, com certa dificuldade, é claro, ainda se encontra parlamentares que defendam esses ideais.

Infelizmente esses partidos, para chegarem ao poder, fizeram coligações com o que existe de mais reacionário dentro do que chamamos política partidária. Misturaram-se tanto que hoje, não temos nenhum que defenda essa forma de governo. Apesar de ainda manterem seus programas com linha socialista, apenas para manter o falso discurso.

Assim, o voto que ainda continua sendo uma das mais importantes armas que dispomos, deve ser usado de forma correta, principalmente em uma sociedade capitalista, onde as diferenças sociais são enormes, e os interesses são ainda maiores. Como não temos partidos ideológicos, que trabalhe por uma sociedade mais justa, temos que a cada eleição tentar encontrar candidatos que pelo menos tenham alguma coisa em comum com nossas idéias: que pensem em construir um mundo melhor, com menores diferenças. Sabemos que na atual conjuntura é difícil encontrar cidadãos dentro de algum partido político preocupado com isso, mas não custa procurar, se não encontrarmos temos outras formas de exercer nosso direito de voto. O voto nulo, o voto em branco, e até não comparecer perante a urna. São maneiras de exercer a “democracia”, se o voto é apenas uma das mais importantes armas que temos, precisamos urgentemente procurar trabalhar mais as outras armas que possuímos. Fiscalizar o judiciário, o executivo, o legislativo de nosso município, do estado, do país, denunciando as irregularidades, fiscalizar, participar e contribuir nas decisões que envolva educação, saúde, planejamento social, execução de obras, propondo, colaborando, tentando evitar falcatruas, desmandos, corrupção, etc, são armas que nos dão possibilidades de exercer o direito de cidadão e contribuir para um mundo melhor. Rui Oliveira Machado

MÊS DAS MULHERES

Comemorou-se no último dia 08 de março o Dia Internacional da Mulher, na verdade dia de mulher é todo dia, já que as companheiras trabalham de sol a sol, no campo, na cidade, dentro e fora de casa, e ainda por cima com direitos em sua grande maioria negados.

Felizmente com a luta dessas grandes guerreiras as coisas estão mudando, já temos diversas Delegacias Especializadas em Violência contra a Mulher, temos, em qualquer área, mulheres trabalhando de igual para igual com os homens e em muitos casos superando-os, mas, em uma sociedade machista, como é a nossa, ainda falta muito para pelo menos amenizar o sofrimento dessas valorosas companheiras. Quando avançamos no campo das oportunidades na educação, no trabalho, na igualdade dos direitos, avançamos desordenadamente na violência, na discriminação, no assedio, na falta de respeito, na independência sexual e muitas outras maldades que são praticadas a todo instante. *Notícias sobre violência contra a mulher rotineiramente são apresentadas nos veículos de informação. Segundo dados estatísticos, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. O despertar para o combate à violência contra a mulher ainda se encontra muito discreto, tanto pelo medo da exposição como pela limitação em reconhecer que a violência não é caracterizada só por tapas e porradas.

Nesse mês onde se comemora o Dia Internacional das mulheres, nós homens, precisamos fazer uma autocrítica, parar e pensar como está nosso relacionamento com as companheiras: estaremos sendo machistas, discriminadores, violentos, traidores, etc, etc, etc, etc,...? Como podemos contribuir para mudar esse quadro? Quem sabe assim poderemos trabalhar juntos para a construção de uma sociedade mais justa, onde não seja preciso estabelecer um dia para lembrar que devemos respeitar nossas companheiras.

Rui Oliveira Machado.



BOCA DO CEU 33



Ano IX/Out/Nov/Dez/2009

FIM DE ANO.

Chegamos ao final de mais um ano. Esse ano foi para a comunidade de Uibaí, de muita expectativa. Depois de décadas sendo administrada por um único grupo político, ou melhor, com uma mesma orientação política, assumiu no início do ano uma nova administração com promessas de mudanças na forma de governar.

Realmente tem-se outro formato de administração no município. As coisas estão acontecendo com mais transparência, a prefeitura não conta mais com aquelas “romarias” de pedintes, a cidade está mais limpa, o hospital e os postos de saúde funcionando de forma satisfatória, as escolas na sede e nos povoados bem mais cuidadas, as edificações pertencentes ao município sendo recuperadas e utilizadas decentemente, a ligação Uibaí/Irecê melhor pavimentada. Melhorou? Sim, claro que melhorou, mas falta ainda muita coisa.

Vamos para algumas: asfaltar o “cascalho”, recuperar as praças, o mercado, o banheirão, etc., isso falando só na parte de infra estrutura e saneamento; partindo para a parte político/administrativa, são duas as mais cobradas e comentadas pela comunidade: avaliação e mudança no secretariado, (leia-se Secretaria de

Administração e Finanças) avaliação e mudança na segurança pública (leia-se o Sargento comandante e seu irmão lotado na prefeitura), Uibaí não precisa desse tipo de gente. São pessoas que ninguém conhece, nunca contribuíram em nada para nosso município, caíram de pára-quedas em nossa cidade.

No mais, tenho esse ano de 2009, como um ano proveitoso para nossa comunidade. Acredito e faço votos, para que o próximo seja melhor.

Feliz ano novo para todos.

PS. E aquelas reuniões nos terreiros para discutir os problemas da sede e dos povoados? Não seria importante retomarmos? Rui Oliveira Machado

QUEM NÃO GOSTA DO BOLSA-FAMÍLIA?

Por Marcos Coimbra*, no blog do Noblat

Será que alguém imagina que a interrupção avisada de um benefício favorece o governo na eleição? Que o fato de 1,4 milhão de famílias saberem que perderão um rendimento vai fazer com que votem em Dilma? É impressionante a má vontade que parte da imprensa tem com o Bolsa Família. Vira e mexe, alguém encontra um motivo para criticá-lo, tenha ou não fundamento. Quando acha que descobriu algo relevante, aproveita para externar sua antipatia em relação ao programa, quando não seus preconceitos contra os beneficiários. No último fim de semana, uma das mais importantes revistas de informação trouxe uma matéria típica dessa visão. Nela, ao questionar o que, em uma primeira impressão, parece uma decisão condenável do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que o administra, fica evidente a hostilidade que é dirigida ao programa, levando a interpretações infundadas e equivocadas. Ninguém é obrigado a gostar do governo e é natural que existam órgãos de imprensa que se posicionem contra ele por motivos ideológicos. No mundo inteiro, isso acontece e é até salutar que tenhamos jornais e revistas com clara inclinação política e partidária. O problema é que, às vezes, a circulação dessas matérias vai além da publicação de origem. Com a internet, algo escrito aqui está ali em um piscar de olhos, deixando menos nítida sua autoria. Como determinado texto aparece em inúmeros lugares, parece que tem uma espécie de reconhecimento universal, que todos o subscrevem. Foi o que aconteceu com a matéria em questão. Os mais prestigiosos blogs a republicaram, como que a endossando. Ela logo virou uma quase verdade. Seu fulcro é a crítica à concessão de um novo prazo de carência para a exclusão de cerca de 5,8 milhões de pessoas da cobertura do programa, seja por não cumprimento da obrigação de se recadastrar, seja pela elevação da renda familiar para além do limite de R$ 140 per capita. Elas seriam excluídas em novembro passado, mas, com a prorrogação, só o serão em 31 de outubro próximo. Em função disso, a revista se sentiu autorizada a chamar o programa de "Bolsa Cabresto", como se a data fixada no ato do MDS fosse evidência suficiente de suas intenções eleitorais. Dado que 31 de outubro é o dia marcado para o segundo turno da eleição presidencial, estaria confirmado e provado o caráter eleitoreiro do programa. A coincidência "nada sutil" das datas explicaria tudo. É realmente curiosa a tese. Será que alguém imagina que a interrupção avisada de um benefício favorece o governo na eleição? Que o fato de 1,4 milhão de famílias saberem que perderão um rendimento vai fazer com que votem em Dilma? Seria algo totalmente inédito, que desafia a lógica mais banal: alguém ter mais votos quando promete que vai eliminar um benefício e ainda marca o dia (pensando nisso, será que o comando da campanha da ministra atentou para a medida?). O esdrúxulo argumento vem embrulhado com dados inexatos e ilações mal sustentadas. Tudo no Bolsa Família é inflado para parecer maior e pior. A matéria afirma que "um em cada quatro brasileiros passou a ser sustentado pelo governo" (sugerindo que através do programa), enquanto se sabe que são 12,4 milhões as famílias beneficiárias (em um total de 60,9 milhões apuradas pela última Pnad), das quais o benefício não chega a "sustentar" nem um terço. A "prova" que o programa seria um "poderoso cabo eleitoral" é extraordinária. Viria de um estudo que mostra que "a cada R$ 100 mil deixados pelo programa em municípios de mil habitantes" teria correspondido um acréscimo de 3% de votos para Lula nas eleições de 2006. Será que a revista sabe que só existem 103 municípios no Brasil (em um total de 5.565) desse porte (menos que 2 mil habitantes)? Que neles vivem apenas 158 mil eleitores (em um total de mais de 130 milhões), que representam 0,0012% do eleitorado brasileiro? Que o voto nominal total para presidente nesses municípios ficou perto de 125 mil? Ou seja, que esses números dizem, na verdade, que a propalada influência do programa é insignificante? Para corroborar a idéia de que o Bolsa Família é o "Bolsa Cabresto", foi ouvida a opinião de um cientista político, para quem ele seria pior que o que faziam os "antigos coronéis": "(Eles) pelo menos aliciavam votos com o próprio dinheiro. O governo atual faz isso com dinheiro público". Primeiro, o poder dos antigos coronéis não vinha do dinheiro, mas do mando local. Segundo, é isso mesmo que acham os opositores do programa, que ele apenas alicia votos com recursos públicos? Ou seja, que deveria ser encerrado e terminado, a bem da moralidade? Enquanto for assim concebido por quem não gosta de Lula, do PT e do governo, mais o Bolsa Família ficará com a cara daqueles que o defendem. Criado em administrações tucanas e largamente ampliado e melhorado pelo governo Lula, é pena que isso aconteça. O programa deveria ser um patrimônio do país.

(*) Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

BOCA DO CEU 31



Ano IX/Abr/Mai/Jun/2009

NOSSOS PRESIDENTES.

Estamos diante de mais um espetáculo promovido pelo Congresso Nacional por parte de nosso ilustre Senador Mor, juntamente com nosso também ilustre Presidente. A maior autoridade no Senado, o senador José Sarney, juntamente com a maior autoridade do país, Lula, é que nos proporciona esse espetáculo. O atual presidente do Senado Federal tem uma longa historia política, sempre pautada pela corrupção. É um dos últimos “Coronéis”, que ainda conserva seu poder à moda antiga. Mandou e manda no Maranhão desde que assumiu a vida pública, e o que temos nesse estado: um dos mais pobres do país, um dos maiores índices de analfabetismo, um dos piores em saneamento básico, em saúde, segurança, etc., etc., mas esse senhor consegue manter-se no poder sempre através de falcatruas, a exemplo de mudança de domicílio eleitoral, já que é eleito pelo Amapá. Agora em fim de carreira política, (espero) se vê envolvido em diversos escândalos: nepotismo, fisiologismo, desvio de dinheiro público, mentiras, quebra de decoro, etc., crimes que praticou durante toda a sua vida, e que agora veio a público por conta de “intrigas” políticas e ações de instituições de fiscalização (imprensa, ministério público, etc.), mesmo assim o “Chefe” maior do Senado não que largar o osso.

Já a maior autoridade do país, nosso presidente insiste vergonhosamente em defender o senador, convenientemente, pois necessita do apoio do seu partido nas próximas eleições presidenciais, para poder emplacar Dilma. A que ponto chegamos: um presidente oriundo das massas de combativos trabalhadores metalúrgicos, com uma trajetória política alicerçada dentro dos princípios socialistas, eleito com o apoio dos setores populares mais avançados da América Latina, hoje, além de tecer elogios a Fernando Collor, um verme fecal, defende com unhas e dentes, outro presidente oriundo de um regime ditatorial que assassinou, exilou e destruiu a vida de milhares de brasileiros e brasileiras durante vinte anos. Será que o povo brasileiro está hipnotizado, não consegue ver, ouvir e falar? Até quando vamos aceitar tudo isso? Atualmente as criticas direcionadas ao governo Lula não são aceitas porque seus ferrenhos defensores insistem no argumento de que houve um avanço em relação ao governo passado, principalmente no que tange a distribuição de renda através dos programas assistencialistas, e que esse é um governo popular. Por conta disso o governo pode tudo, defender e alinhar-se com os algozes de tempos pretéritos, que praticaram e ainda praticam o que existe de mais perverso contra um povo, que é tirar o direito a vida. No momento em que um parlamentar desvia dinheiro público destinado a saúde, a alimentação, a educação, a segurança, etc., está praticando genocídio. Precisamos voltar a nos indignar. Onde estão a juventude, os estudantes, que sempre estiveram à frente de todos os movimentos democráticos desse país? Precisamos voltar as ruas, as praças, acabar com o Senado Federal, uma Casa que não serve para nada, a não ser para referendar os atos da Câmara Federal, e promover deputados corruptos a um posto mais poderoso. Não precisamos de tantos “representantes,” apenas a Câmara e ainda por cima se possível com uma redução de pelo menos 80% no número de seus deputados. Não podemos esperar mais. Não podemos deixar que o século XXI, continue com a mesma cara do século XX.

Rui Oliveira Machado

MEU REINO POR TEU AMOR

Por: Savigny Machado Lima

Quando menino era um exímio matador de grilos até que num dia destes que corria como qualquer outro dia uma destas minhas vítimas inesperadamente fez soar a sua voz e chegar aos meus ouvidos: deixa de ser gente ruim, seu malvado, a gente também quer viver. Depois desta inesperada frase de um grilo cantador, passei a observar melhor o comportamento dos grilos e me tornei um admirador de grilos. Os grilos pra quem não conhece são criaturas maravilhosas. Acordam todos os dias às seis horas da manhã e aí levam os grilinhos pequenininhos pra passear. Muitas horas sob o sol matutino e aí descambam pra cachoeira – é, eles só bebem água da fonte e as refeições vêm direto do pomar. Cada grilo tem uma horta e um pomar e desde o nascimento até a sua morte este labor na terra acompanha o seu dia a dia. Depois da hora do almoço, eles dormem umas duas horas como se eles fossem uma tia minha que todo santo dia tem que fazer uma sesta. É engraçado, eles acordam e começam a cantar. As pessoas deveriam ser obrigadas a fazer como os grilos que dormitam todos os dias depois do manjar e ao levantar cantam uma cantiga de periquitos pra começar a tecer as rendas do bordado da tarde. Poucas pessoas sabem, mas os grilos cantam! Aos 15 anos de idade, minha mãe me perguntou o que queria de presente de aniversário. Minha mãe ouviu da minha boca o pedido bastante incomum: mãe quero uma gaita de encantar grilos. Meu filho, mas eu nunca ouvi falar numa gaita de grilos. Disse minha mãe estupefata. Ela se achava em matéria de música. Bem, ela não sabia que desde há muito eu havia me tornado um encantador de grilos. Quando você começa a encantar grilos a sua vida muda absolutamente. Em tudo, minha vida mudou. Eu passei a acordar mais cedo para ver o nascer do sol e acompanhar religiosamente o cair do dia, é que os grilos gostam muito destas duas cerimônias. E aí, um encantador de grilos precisa conhecê-las com precisão. Cada detalhe é importante, tanto assim o é que aprendi até que o primeiro raio de sol é mais fino do que um alfinete. É verdade, um dia eu tive que medir com uma agulha que eu peguei emprestada de uma vizinha costureira bem ao nascer do dia. E que este raio de sol que na verdade é de alfinete se divide igualmente por todos os grilos e é tão vaidoso que se prepara horas a fio para uma aparição milesimal. Ao cair da tarde, todos os grilos se reúnem em torno de uma lagoa pra ouvir o mais hábil dos grilos que também são músicos para ouvir uma canção feita para cada novo dia que se passa. Todo grilo é um músico, mas nem todo músico é um grilo. Isto é uma pena. Cada dia para os grilos é um dia para ser encantado e cantado, isso eu acho que acontece porque eles sofrem muito com os assassinatos de grilos feitos por crianças malvadas. Antes do cair absoluto da noite, além do encontro ao derredor da lagoa para vê o cair do dia ao som de uma linda valsa, os grilos fazem uma festa pra lua. Os grilos conhecem todas as estrelas e sabem encontrar no céu todas as constelações. Um dia um deles me disse que o coração de escorpião é vermelho e que brilha mais intenso do que o seu pulmão. Agora, o que é mais importante mesmo é que os grilos quando se apaixonam escrevem uma poesia para o seu amor. Eu, na verdade, sou um grilo e estou apenas dizendo com esta enviesada prosa que uma linda moça de olhos castanhos e de caminhar se achante é cura das minhas chagas abertas. Não tenho muita coisa pra te oferecer, sou apenas o rei deste singelo lugar. Aqui, sou senhor de insetos, borboletas coloridas e de dúzias de tracajás. Lagoas e lagos e alguns ramos de maracujá. Por teu amor, ofereço meu reino. Ofereço a ti, meu reino por teu amor.

BOCA DO CEU 30



Ano IX/Jan/Fev/Mar/2009

SOCIALISMO

O que houve com os ideais socialistas de uma geração de trabalhadores nascidos no final dos anos 50 e início dos anos 60 em nosso país? Período de grande militância, quando da “abertura política” após a queda do regime Militar; essa geração que na época estava por volta dos vinte anos de idade, encantada com as grandes lideranças que reapareciam do exílio para junto com muitos outros intelectuais falar de uma sociedade mais justa sem exploradores nem explorados, onde o homem podia viver dignamente sem a ameaça da usura e do lucro imposto através da exploração dos mais “fracos”. A criação do Partido dos Trabalhadores, (PT) da Central Única dos Trabalhadores, (CUT), dentre outros instrumentos, que dariam sustentação na organização da luta por uma sociedade mais igualitária estava em plena ascensão. O país borbulhava. O movimento sindical tomava corpo e os trabalhadores se organizavam: passeatas, comícios, manifestações sociais em diversos setores, etc., era o caminho para chegar ao poder pelas mãos do povo e iniciar a socialização do país.

Após anos de muitas lutas chegou-se ao poder. Um governo formado em sua grande maioria por cidadãos que eram nossas referências enquanto defensores do socialismo. A nata da esquerda organizada, cidadãos criados e trabalhados dentro de uma ideologia socialista com experiência acumulada na estruturação e organização dos mais importantes movimentos sociais reivindicatórios de nossa história e que jamais passaria por suas cabeças o poder pelo poder.

Trinta anos já se passaram de “abertura política”. O país diferencia-se a cada governo que assume e envereda por um caminho nunca sonhado por essa geração de militantes “socialistas”: o primeiro governo civil após o regime militar o Sr. José Sarney, foi criado dentro do próprio regime; Collor/Itamar, foi o fracasso assistido por todos; o país governado por FHC, em seu primeiro mandato, foi diferente dos anteriores em sua “administração”, como também foi diferente do seu segundo mandato. o país governado por Lula em seu primeiro mandato foi diferente dos anteriores em sua “administração”, e seu segundo mandato também está sendo diferente do primeiro. Todos esses governos avançaram em relação aos governos militares, todos fizeram investimentos nas áreas sociais, o mínimo que lhes garantissem fazer seu sucessor ou mesmo reeleger-se. São táticas camaleônicas, mudanças superficiais aplicadas em determinados momentos com um fim pré-estabelecido. Todos esses governos, e os próximos que vierem dentro desse modelo capitalista, terão algumas diferenças na forma de “administrar” o país, mas as intenções e os projetos são todos de caráter restrito beneficiando sempre uma minoria que comanda esse país há centenas de anos. Essa avaliação pode ser feita, também, em nível internacional. Os problemas enfrentados nos países subdesenvolvidos são os mesmos em qualquer continente. Na América Latina, onde estamos inseridos, a violência urbana é latente, a corrupção envolvendo o patrimônio público é uma constante, a exclusão social não se diferencia, e a política adotada é a mesma: os lucros são abocanhados por uma minoria privilegiada e os prejuízos socializados com a classe trabalhadora, ou seja, a maioria marginalizada. Capitalismo e isso. Pequenas ilhas de prazeres, cercadas por bolsões de miséria. Felizmente tudo tem limite: esses bolsões começam a ficar inquietos. Os índices de criminalidade aumentam a cada dia. A violência não escolhe classe social: é o desespero tomando conta do povo oprimido. O Brasil está em guerra civil constante nessas últimas décadas e o povo, não demora a descobrir com quem e contra quem deve lutar na construção de uma sociedade mais justa. Sempre foi assim. As grandes revoluções com mudanças estruturais profundas só se viabilizaram, infelizmente, com a luta armada. Mudanças estruturais pacíficas, não existem, sistema capitalista moderno, avançado, etc., muito menos. Capitalismo é explorador e explorado em qualquer lugar do mundo.

Mas, e os ideais socialistas tão defendidos por essa geração? Segundo alguns “companheiros” esse negócio de ideologia não cabe mais. Acreditam que existem várias formas de Capitalismo e que o Brasil tem tudo para implementar um dos mais avançados modelos, inclusive com inclusão social. Defendem os programas sociais existentes: bolsa família, bolsa escola, cotas, etc., como sendo a solução mais viável para a concretização de uma sociedade mais justa. É, realmente, o “poder tem seus encantos”, conseguiu aniquilar de vez toda uma geração de cidadãos empenhados de corpo e alma na construção de um pais socialista, apenas com alguns poucos anos no “poder”, poder esse dividido humildemente com seus algozes de um passado recente.

ARRUMANDO A CASA

Passaram-se três meses de uma nova administração em nosso município. Sei que ainda é muito pouco tempo para se fazer uma avaliação, mas acredito que devemos acompanhar de perto essa administração que veio com uma proposta significativa de mudança no trato com o dinheiro público, como também ações voltadas para as questões de cunho social mais urgente. Penso que está faltando nesse final de trimestre uma apresentação por parte da prefeitura da situação em que as diversas secretarias existentes na administração passada foram encontradas: saúde, educação, cultura/esporte, finanças, planejamento, etc., o cidadão precisa saber e é também uma forma da atual administração ter uma radiografia do momento em que assumiram. Segundo fontes não oficiais as Secretarias de Saúde, Educação, Finanças, Administração, etc., estavam completamente sucateadas.

Hoje algumas secretarias como a de Educação, de Saúde, de Finanças, secretarias que a população está mais atenta, por estarem mais diretamente em contato, já apresentam alguns resultados: levantamentos foram feitos na Secretaria de Educação no que diz respeito aos imóveis utilizados como escolas nos diversos povoados. Infelizmente em sua grade maioria estão abandonadas e sucateadas, inviabilizando o início das atividades escolares em algumas, por necessitarem de reforma geral. O Hospital Municipal foi encontrado entregue às moscas, hoje pode ser utilizado pela população local, com a presença de um bom quadro de recursos humanos. Os Postos de Atendimento já foram, em grande parte, reativados; a Secretaria de Finanças vem executando um levantamento criterioso, detectando as diversas irregularidades encontradas na utilização do dinheiro público, para as devidas providências. A limpeza e coleta de lixo estão sendo realizadas diariamente na cidade e nos povoados.

Tudo isso que está acontecendo em nosso município é obrigação do poder público. Ainda é muito pouco, mas já é um começa. A cobrança se faz necessária, a todo o momento. Devemos sim, reconhecer as dificuldades encontradas, mas nosso município tem todas as credenciais para ser uma referência de administração nessa região. Temos, acredito que pela primeira vez á frente de nosso município, em sua esmagadora maioria, cidadãos sérios e com disposição de contribuir para a melhoria de nossa cidade.

Mas não devemos abrir a guarda. Sabemos que uma laranja podre no meio de uma carrada pode levar a carga ao lixo. Assim, se em algum momento os interesses coletivos forem deixados em prol dos individuais, devemos estar prontos para denunciar e cobrar. Como diz o ditado: “o mesmo pau que dá em Chico, dá em Francisco”.

Rui Oliveira Machado.

UM “PAC” COM DILMA

Cordel de Miguelzinho de Princesa, direto do Cariri.

I-

Quando vi Dilma Roussef

Sair na televisão

Com o rosto renovado

Após uma operação

Senti que o poder transforma:

Avestruz vira pavão.

II-

Repente ela virou

Namorada do Brasil:

Os políticos, quando a vêem

Começam a soltar psiu

Pensando em 2010

E em bilhões que ela pariu.

III-

A mulher que era emburrada

Anda agora sorridente

Acenando para o povo

Alegre mostrando o dente

E os baba-ovos gritando:

È Dilma pra presidente!

IV-

Mas eu sei o que o olho grande

Está mesmo e nos bilhões

Que Lula botou no PAC

Pensando nas eleições

E mandou Dilma gastar

Sobretudo nos grotões.

V-

Senadores garanhões

Sedutores de donzelas

E deputados gulosos

Caçadores de gazelas

Enjoaram das modelos

Só querem casar com ela.

VI-

Também quero uma lasquinha,

Um pedaço de poder,

Quero olhar nos olhos dela

E, ternamente, dizer

Que mais bonita que ela

Mulher nenhuma há de ser.

VII-

Eu vi um deputado

Dizendo no Cariri

Que Dilma e linda e charmosa,

Igual não existe aqui,

E é capaz de ser mais bela

Que a Angelina Jolie.

VIII-

Diz que pisa devagar,

Que tem jeito angelical

Nunca gritou com ninguém

Nem fez assédio moral,

Nem correu atrás de gente

Com um pedaço de pau.

IX-

Dilma superpoderosa:

8 bilhões pra gastar

Do jeito que ela quiser

Da forma que ela mandar!

(Sem contar com o milhão

Do cofre do Adhemar).

X-

Estou com ela e não abro:

Viro abridor de cancela

Topo matar jararaca

Apago fogo em goela

Para no ano vindouro

Fazer um PAC com ela.

BABA NA ACCU

I

Os velhos contra os novos

Os novos contra os velhos

Com essa idade toda

Pode dar um revertério.

II

Os mais novos empolgados

Querendo mostrar potência

Os mais velhos lembram logo

Da sua eterna impotência.

IV

Com um sol de meio dia

E com o céu toda azul

A boca e os beiços secos

Feito couro de cubú

V

Os mais velhos vão pedindo

Ao juiz atrapalhado

O fim dessa grande festa

Ocorrida no sertão

Com medo de mais tarde

Ter que importar caixão.

VI

Quando o juiz apitou

Foi um alívio total

Mas para a tristeza de todos

Não tem água mineral

VII

Água só na Formosa

Uma légua de distância

O jeito é tomar cerveja

E aumentar mais a pança

Pois não sei pra quê velho

Jogar bola com criança.

BOCA DO CEU 29


Ano VIII/Out/Nov/Dez/2008

ELEIÇÕES MUNICIPAIS UIBAÍ

Chegamos ao final de mais uma eleição municipal em nossa cidade. Como poderíamos avaliar mais esse momento? Primeiro, acredito que com a chegada de personagens que nunca estiveram à frente do poder em nosso município, já é por si só um avanço, segundo, acredito também que a alternância de poder trás mais perspectiva para uma comunidade e terceiro, acredito que mesmo a passos de tartaruga, Uibaí está mudando. Tivemos a administração do Prefeito Birinha, acompanhada de perseguições, violência, nepotismo, etc., uma administração que deve ser esquecida por todos os cidadãos de Uibaí. Na administração de Raul Filho houve uma diferenciação: não tivemos as perseguições, o mesmo foi obrigado a realizar concurso para preenchimento dos cargos públicos, algumas obras de melhoramento na sede e em alguns povoados, a exemplo de quadras esportivas, novas praças e calçamento de algumas ruas. Na parte de educação e saúde, não mudou praticamente nada, e a marca do nepotismo continuou acentuadamente, mas para qualquer um que assumisse uma cidade administrada por oito anos por Birinha, que não fez absolutamente nada, só de não persegui ninguém já está de bom tamanho. Com a chegada de Pedro Rocha na prefeitura de Uibaí, quero acreditar que estamos caminhando para um formato de administração diferenciada de todas já existentes. Nos dias de hoje, onde os partidos ditos ideológicos encantaram-se com o poder e aderem de corpo e alma à política do “é dando que se recebe”, ainda assim, é possível se fazer uma administração com seriedade, honestidade e honradez. Exemplos são o que não faltam: Pintadas, Vitória da Conquista, Porto Alegre, Sergipe, etc. são cidades que investiram em educação, saneamento, saúde, segurança e principalmente em transparência em relação a aplicação e destino dos recursos financeiros públicos. Porque em Uibaí não podemos agir assim? Temos capacidade de cobrar, fiscalizar e exigir do futuro chefe do executivo. Não acho que porque Pedro Rocha assumiu o poder as coisas vão mudar de uma hora para outra, mas a forma como estão sendo administradas algumas cidades, já citadas acima, diferenciam e muito da forma como vem sendo administrada a nossa cidade, e essa e a forma proposta. Temos a nosso favor vários instrumentos de fiscalização que podemos usar, de preferência envolvendo a comunidade, para que a mesma exerça seu papel de cidadã, e se interesse, não só pelo momento da eleição, mas por todo o mandato atribuído ao chefe do executivo municipal como também aos seus representantes na câmara de vereadores. Quero acreditar que com esse novo modelo de administração, a comunidade tenha mais participação nas decisões que envolva a mesma diretamente, e para isso se faz necessário a organização dos instrumentos de cobrança: associações de moradores, conselho de pais, alunos e professores, grêmio estudantil, sindicatos de servidores públicos municipais, etc. . São esses instrumentos que podem dar visibilidade às demandas mais urgentes de uma comunidade. Assim, o momento e de organização, precisamos nos preparar para uma nova forma de administração que está sendo proposta, penso que devemos dar um prazo de pelo menos um trimestre para que o novo prefeito tome pé da situação, após esse período, as entidades civis organizadas devem apresentar suas propostas e abrir a discussão dando prioridade às questões mais emergenciais, a exemplo da saúde pública e educação, pontos cruciais na administração de qualquer cidade do interior brasileiro.

Rui Oliveira Machado.

UM PARAÍSO CHAMADO BRASIL

Ao criar o mundo, Javé encarregou serafins e querubins de executarem o projeto América Latina. Animados, os anjos puseram mãos à obra, convencidos de que da prancheta do Grande Arquiteto só poderia resultar o melhor.

Lá pelas tantas os serafins se deram conta de que havia pequenos erros de cálculo. Como era possível, se tudo fora previsto pela Infinita Sabedoria? Frente às evidências, alguns anjos relaxaram no trabalho, o que pareceu, aos olhos dos arcanjos, boicote ao projeto.

Bom patrão, Javé decidiu dialogar com os relapsos:

- Por que têm faltado ao trabalho?

- Porque o projeto não é justo -, respondeu o líder dos serafins.

- Como não é justo? - espantou-se Aquele que é sumamente justo.

- Veja, Senhor -, disse o anjo, - o México é proporcional à Argentina; a Nicarágua à Bolívia; o Panamá ao Uruguai. Mas há um país demasiado grande na América do Sul. Por que não dividi-lo em cinco ou seis, de modo a evitar que, no futuro, haja queixas de que o Senhor privilegiou o Brasil?

Irritado por duvidarem de sua imparcialidade, Javé reagiu:

- Sei muito bem o que estou fazendo. - E observou: - Prossigam a obra.

Dias depois, Javé viu a sua infinita paciência abalada pela notícia de que os querubins mais conscientes, organizados no sindicato angélico, filiado à CUT, tinham entrado em greve. Sem temer afrontas, compareceu à assembléia da categoria.

- E agora, qual a reclamação?

- Os serafins têm razão, Senhor -, explicou o líder. - O projeto é realmente injusto e, por isso, não podemos prossegui-lo.

- Ora, o que há de errado em implantar países com dimensões diferentes? - retrucou Javé. - A um continente quadriculado, prefiro a diversidade, como fiz com as espécies de vida.

- Não estamos falando de proporcionalidade territorial - disse o anjo. - Estamos nos referindo aos fenômenos naturais destinados a cada país.

Veja, Senhor: tem deserto no Chile, no Peru e no México. No Brasil, nenhum.

Vulcões na Nicarágua e furacões em Cuba. No Brasil, nenhum.

Terremotos no Peru, na Guatemala, na Nicarágua, em El Salvador e no México. No Brasil, nenhum.

Neve e geleiras em toda a região andina. No Brasil, só uma nevezinha, três noites por ano, em São Joaquim, para atrair turistas.

Outro anjo completou:

- Nós, da direção do sindicato, até desconfiamos de que não se trata de injustiça. Está nos parecendo que, após o fracasso do Éden, o Senhor decidiu reeditar o Paraíso.

- Como assim? - exclamou Javé.

- O Éden não fechou por causa de uma maldita árvore? Verificamos que, entre todos os países do mundo, só o Brasil tem nome de vegetal. Dada as suas dimensões continentais, a ausência de qualquer catástrofe natural e os imensos recursos a ele reservados, concluímos que, ali, o Senhor pretende reeditar o Paraíso, não é verdade? Ou como explicar o projeto de conferir ao Brasil a maior bacia hidrográfica do mundo; oito mil quilômetros de costa; uma floresta que absorverá boa parte do dióxido de carbono da atmosfera; 600 milhões de hectares cultiváveis e potencial para três safras por ano?

Javé cofiou a longa barba e disse:

- Sim, confesso que tive essa tentação ao abençoar o Brasil de modo especial. Mas sei, na minha onisciência, que lá, por muitos anos, não será o Paraíso. Esperem só para ver que tipo de políticos aquela gente vai eleger. O estrago, ao menos nos cinco primeiros séculos após a chegada de Cabral, será muito grande: haverá miséria, discriminação, corrupção e violência. Crianças andarão pelas ruas sem horizontes e agricultores ficarão à beira das rodovias à espera de um pedaço de terra. Como não perco a esperança, pode ser que, um dia, os eleitores descubram que, votando a favor da justiça e do social, o Brasil estará muito próximo de vir a ser um Paraíso, com muita paz e fartura. Frei Beto

Feliz Natal e próspero ano novo.