segunda-feira, 7 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 29


Ano VIII/Out/Nov/Dez/2008

ELEIÇÕES MUNICIPAIS UIBAÍ

Chegamos ao final de mais uma eleição municipal em nossa cidade. Como poderíamos avaliar mais esse momento? Primeiro, acredito que com a chegada de personagens que nunca estiveram à frente do poder em nosso município, já é por si só um avanço, segundo, acredito também que a alternância de poder trás mais perspectiva para uma comunidade e terceiro, acredito que mesmo a passos de tartaruga, Uibaí está mudando. Tivemos a administração do Prefeito Birinha, acompanhada de perseguições, violência, nepotismo, etc., uma administração que deve ser esquecida por todos os cidadãos de Uibaí. Na administração de Raul Filho houve uma diferenciação: não tivemos as perseguições, o mesmo foi obrigado a realizar concurso para preenchimento dos cargos públicos, algumas obras de melhoramento na sede e em alguns povoados, a exemplo de quadras esportivas, novas praças e calçamento de algumas ruas. Na parte de educação e saúde, não mudou praticamente nada, e a marca do nepotismo continuou acentuadamente, mas para qualquer um que assumisse uma cidade administrada por oito anos por Birinha, que não fez absolutamente nada, só de não persegui ninguém já está de bom tamanho. Com a chegada de Pedro Rocha na prefeitura de Uibaí, quero acreditar que estamos caminhando para um formato de administração diferenciada de todas já existentes. Nos dias de hoje, onde os partidos ditos ideológicos encantaram-se com o poder e aderem de corpo e alma à política do “é dando que se recebe”, ainda assim, é possível se fazer uma administração com seriedade, honestidade e honradez. Exemplos são o que não faltam: Pintadas, Vitória da Conquista, Porto Alegre, Sergipe, etc. são cidades que investiram em educação, saneamento, saúde, segurança e principalmente em transparência em relação a aplicação e destino dos recursos financeiros públicos. Porque em Uibaí não podemos agir assim? Temos capacidade de cobrar, fiscalizar e exigir do futuro chefe do executivo. Não acho que porque Pedro Rocha assumiu o poder as coisas vão mudar de uma hora para outra, mas a forma como estão sendo administradas algumas cidades, já citadas acima, diferenciam e muito da forma como vem sendo administrada a nossa cidade, e essa e a forma proposta. Temos a nosso favor vários instrumentos de fiscalização que podemos usar, de preferência envolvendo a comunidade, para que a mesma exerça seu papel de cidadã, e se interesse, não só pelo momento da eleição, mas por todo o mandato atribuído ao chefe do executivo municipal como também aos seus representantes na câmara de vereadores. Quero acreditar que com esse novo modelo de administração, a comunidade tenha mais participação nas decisões que envolva a mesma diretamente, e para isso se faz necessário a organização dos instrumentos de cobrança: associações de moradores, conselho de pais, alunos e professores, grêmio estudantil, sindicatos de servidores públicos municipais, etc. . São esses instrumentos que podem dar visibilidade às demandas mais urgentes de uma comunidade. Assim, o momento e de organização, precisamos nos preparar para uma nova forma de administração que está sendo proposta, penso que devemos dar um prazo de pelo menos um trimestre para que o novo prefeito tome pé da situação, após esse período, as entidades civis organizadas devem apresentar suas propostas e abrir a discussão dando prioridade às questões mais emergenciais, a exemplo da saúde pública e educação, pontos cruciais na administração de qualquer cidade do interior brasileiro.

Rui Oliveira Machado.

UM PARAÍSO CHAMADO BRASIL

Ao criar o mundo, Javé encarregou serafins e querubins de executarem o projeto América Latina. Animados, os anjos puseram mãos à obra, convencidos de que da prancheta do Grande Arquiteto só poderia resultar o melhor.

Lá pelas tantas os serafins se deram conta de que havia pequenos erros de cálculo. Como era possível, se tudo fora previsto pela Infinita Sabedoria? Frente às evidências, alguns anjos relaxaram no trabalho, o que pareceu, aos olhos dos arcanjos, boicote ao projeto.

Bom patrão, Javé decidiu dialogar com os relapsos:

- Por que têm faltado ao trabalho?

- Porque o projeto não é justo -, respondeu o líder dos serafins.

- Como não é justo? - espantou-se Aquele que é sumamente justo.

- Veja, Senhor -, disse o anjo, - o México é proporcional à Argentina; a Nicarágua à Bolívia; o Panamá ao Uruguai. Mas há um país demasiado grande na América do Sul. Por que não dividi-lo em cinco ou seis, de modo a evitar que, no futuro, haja queixas de que o Senhor privilegiou o Brasil?

Irritado por duvidarem de sua imparcialidade, Javé reagiu:

- Sei muito bem o que estou fazendo. - E observou: - Prossigam a obra.

Dias depois, Javé viu a sua infinita paciência abalada pela notícia de que os querubins mais conscientes, organizados no sindicato angélico, filiado à CUT, tinham entrado em greve. Sem temer afrontas, compareceu à assembléia da categoria.

- E agora, qual a reclamação?

- Os serafins têm razão, Senhor -, explicou o líder. - O projeto é realmente injusto e, por isso, não podemos prossegui-lo.

- Ora, o que há de errado em implantar países com dimensões diferentes? - retrucou Javé. - A um continente quadriculado, prefiro a diversidade, como fiz com as espécies de vida.

- Não estamos falando de proporcionalidade territorial - disse o anjo. - Estamos nos referindo aos fenômenos naturais destinados a cada país.

Veja, Senhor: tem deserto no Chile, no Peru e no México. No Brasil, nenhum.

Vulcões na Nicarágua e furacões em Cuba. No Brasil, nenhum.

Terremotos no Peru, na Guatemala, na Nicarágua, em El Salvador e no México. No Brasil, nenhum.

Neve e geleiras em toda a região andina. No Brasil, só uma nevezinha, três noites por ano, em São Joaquim, para atrair turistas.

Outro anjo completou:

- Nós, da direção do sindicato, até desconfiamos de que não se trata de injustiça. Está nos parecendo que, após o fracasso do Éden, o Senhor decidiu reeditar o Paraíso.

- Como assim? - exclamou Javé.

- O Éden não fechou por causa de uma maldita árvore? Verificamos que, entre todos os países do mundo, só o Brasil tem nome de vegetal. Dada as suas dimensões continentais, a ausência de qualquer catástrofe natural e os imensos recursos a ele reservados, concluímos que, ali, o Senhor pretende reeditar o Paraíso, não é verdade? Ou como explicar o projeto de conferir ao Brasil a maior bacia hidrográfica do mundo; oito mil quilômetros de costa; uma floresta que absorverá boa parte do dióxido de carbono da atmosfera; 600 milhões de hectares cultiváveis e potencial para três safras por ano?

Javé cofiou a longa barba e disse:

- Sim, confesso que tive essa tentação ao abençoar o Brasil de modo especial. Mas sei, na minha onisciência, que lá, por muitos anos, não será o Paraíso. Esperem só para ver que tipo de políticos aquela gente vai eleger. O estrago, ao menos nos cinco primeiros séculos após a chegada de Cabral, será muito grande: haverá miséria, discriminação, corrupção e violência. Crianças andarão pelas ruas sem horizontes e agricultores ficarão à beira das rodovias à espera de um pedaço de terra. Como não perco a esperança, pode ser que, um dia, os eleitores descubram que, votando a favor da justiça e do social, o Brasil estará muito próximo de vir a ser um Paraíso, com muita paz e fartura. Frei Beto

Feliz Natal e próspero ano novo.

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