segunda-feira, 7 de novembro de 2011

BOCA DO CEU 36



Ano X - Jul/ags/setb/2010

PORTAL DA TRANSPARENCIA.

Estamos em um novo tempo. Os avanços tecnológicos permitem-nos estar conectados vinte e quatro horas com o mundo. O acesso a informações, de qualquer tipo, está a cada minuto mais simples podendo ser feita por qualquer cidadão em um computador, instrumento de trabalho distribuído nos mais humildes lugarejos de nosso país nas lan hauses, em escolas públicas, etc. O povo brasileiro, hoje mais consciente, luta por maior transparência nos gastos públicos nas três esferas: Federal, Estadual e Municipal. O governo federal já tem disponibilizado um instrumento onde qualquer cidadão possa acompanhar seus gastos, o Portal Transparência Brasil, alguns estados e municípios também já estão procurando fazer uso desses instrumentos, mas mesmo assim, o percentual de corrupção e desvio de dinheiro público, através de todo tipo de falcatruas, ainda é muito grande. Os exemplos estão aí. No executivo, no Judiciário e no Legislativo de todas as esferas de governos. Desvio com passagens aéreas, com os cartões coorporativos, com o pró Uni, com programa de bolsa família e agora uma nova modalidade, pelo menos foi

o que se noticiou e veio à publico, nesses últimos dias, em nosso querido Uibaí: o desvio via Declaração de Imposto de Renda, não sabemos como é feito, mas o prejuízo nos cofres público e certo.

Já está na hora de trabalharmos para que em nosso município seja adotada essa ferramenta de trabalho, com o intuito de abrir espaço para fiscalizar a aplicação do dinheiro público pelo cidadão, socializando as informações para que através da participação (Orçamento participativo), possamos identificar as prioridades e evitar a corrupção. O trabalhador brasileiro não tem, infelizmente, o hábito de procurar saber onde e de que forma seu dinheiro está sendo aplicado. Não só no governo, mas também em seus sindicatos, associações, no condomínio, no clube, etc. Como não se tinha meios eficazes de realizar esse acompanhamento, delegava-se essa atribuição para uns poucos iluminados. Agora que temos condições concretas de fiscalizar, devemos usar todos os meios disponíveis. Já passou da hora de mudar esse quadro, precisamos estar atentos; questionar, fiscalizar, cobrar a todo o momento quanto e onde estão sendo aplicados os recursos públicos do nosso município. Uibaí, que sempre esteve à frente nessa região no que concerne a avanços e inovações, tem nesse momento a oportunidade de antecipar e disponibilizar suas contas via internet, criando um Portal da Transparência municipal, onde o cidadão possa acompanhar em tempo real os gastos e os investimentos do município. É de fundamental importância que essa Administração, que veio com a proposta de mudança e transparência, assuma esse compromisso até o final desse mandato.

Rui Oliveira Machado

A INSUSTENTAVEL PRECONCEITO DO SER.

Por Rosana Jatobá. *

Era o admirável mundo novo!

Recém chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos. Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:

- Recomendo um passeio pelo nosso “Central Park”, disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!

- Então estarei em casa, repliquei ironicamente.

- Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.

- A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?

- Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem “farofa” no parque.

- Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.

- Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar.

-De fato percebo que não existe intenção de magoar. São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.

Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os “Paraíba”, que, aliás, podem ser qualquer nordestino.

Com ou sem “cabeça chata”, outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.

Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável. Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:

- O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:

“O teu cabelo não nega, mulata

Porque és mulata na cor

Mas como a cor não pega, mulata

Mulata, quero teu amor”.

“É ofensivo”, diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem. A expressão “pé na cozinha”, para designar ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala. O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta: “Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos”. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra “niger” para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:

“Eeny, meeny, moe, catch a niger by the toe”... que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se que diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).

Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra, os negros cunharam o slogan “black is beautiful”. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém”. Será que na era Obama vão inventar “Pé na Presidência”, para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje? A origem social é outro fator que gera comentários tidos como “inofensivos”, mas cruéis. A nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto.

Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:

- A minha “criadagem” não entra pelo elevador social!

E a competência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais? Os termos bichona, frutinha, biba, “viado”, maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo? Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:

- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque! Dependendo do tom do cabelo, demonstração de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:

- Só podia ser loira! Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:

- Só podia ser judeu! A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndegas, baleia...

Gosto muito do provérbio bíblico, legado ao Cristianismo: “O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem”. Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano. A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque, em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorância e alimenta o monstro da maldade. Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcoólatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:

- Só podia ser mendigo! No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata lll detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:

- Só podia ser bandido! Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.

PS. Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos...

*Rosana Jotabá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologia ambientais da Universidade de São Paulo.

Apresenta a previsão do tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo.

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