segunda-feira, 19 de março de 2007

BOCA DO CEU 19


Ano VI-abr/mai//jun/2006

ACREDITANDO AINDA NO SOCIALISMO.

Mesmo em momentos de desilusões, como o que ocorre agora, ainda assim acredito que o Brasil será o protagonista de uma revolução socialista na América Latina. Acredito nisso, primeiro, porque temos que estar sempre sonhando com um mundo melhor, e porque observo que o modelo capitalista que domina nossa civilização está acabando. A organização dos trabalhadores contra a exploração, é fato e o capitalismo vive disso – Mais Valia. Se analisarmos esses vintes e cinco anos de “abertura política” no Brasil como um processo veremos que está havendo uma evolução nas diversas formas de atuação no que tange a luta de classe travada desde o “descobrimento do Pais”. O que aconteceu e esta acontecendo nos últimos doze anos de governo de FHC e Lula é o reflexo de tudo que os setores mais progressistas existentes no Brasil conseguiram construir. A esquerda no Brasil e em vários países da América Latina está em um processo de acúmulo de experiências que tem como escopo uma revolução socialista, e o Partido dos Trabalhadores é um instrumento que fez e faz parte desse processo juntamente com outros partidos que estão na luta a mais tempo, e outros que estão surgindo. Analisar, com a agravante de entrarmos em um retrocesso profundo, momentos da política brasileira, como se fossem campeonatos de futebol é um grande equivoco. Todo esse momento faz parte de um processo em busca de uma sociedade mais justa, onde setores engajados nessa luta cometem equívocos, mas também tem avanços consideráveis; ou nessas duas décadas não houve avanços em direção a uma sociedade mais justa? Será que a esquerda brasileira só cometeu equívocos? Não teria sido mais acertos que erros? São fatos que devem ser analisados no momento de fazer uma avaliação, para não cairmos no erro de achar que a revolução Socialista vai acontecer com data e hora marcada, estamos engatinhando na escola democrática. Vinte e cinco anos de “abertura política” dentro do contexto histórico mundial significam algumas horas. Não devemos jogar fora todo esse acúmulo de experiências adquiridos nesses quinhentos e poucos anos de luta e resistência do povo brasileiro.
Rui Oliveira Machado

ELEIÇÕES MUNICIPAIS.

Com encerramento das eleições a nível federal e estadual os olhos dos políticos, principalmente os que não conseguirem ser eleitos, voltam-se para os municípios. Não com o intuito de resolver os vários problemas que atormenta a grande maioria dos habitantes dos mais longínquos grotões deste país, mas sim para articulações imorais desenroladas nas eleições que se encerram amarradas como forma de pagamento, tendo como moeda cadeiras de Prefeito e de vereadores. Quero tomar como exemplo nosso município, a pequena cidade de Uibaí. Lá os “donos do poder” estão desde o início do ano em campanha. Dividiram-se, pois fica melhor apoiar duas frentes políticas, embora as mesmas se dizem diferentes, sendo que no final são farinha do mesmo saco, só assim independente de quem ganhe estarão “representados” dentro do Congresso Nacional, garantindo seus ganhos nos muitos desvios patrocinados pelas emendas orçamentárias, (vide sanguessugas). Não vejo, infelizmente, nenhuma perspectiva para o nosso município. Não temos, até o momento, candidatos a vereador e muito menos para prefeito. Acho também que na atual conjuntura, ter ou não ter candidato não mudaria muito a cara do nosso município. Precisamos encontrar armas mais eficazes, pois só com as que dispomos, dentre elas o voto, o processo de mudança será penoso e demorado. Temos que tomar como exemplo alguns municípios que conseguiram ter avanços na qualidade de vida de seus habitantes e conseguir reduzir de forma considerável a corrupção. Vai aí o exemplo de Ribeirão Bonito/SP. Só assim poderemos dar um salto de qualidade e construir uma Uibaí onde poderemos orgulhar de ser filho.
Rui Oliveira Machado

RIBEIRÃO BONITO*

Ribeirão Bonito, onde tudo começou por causa de uma nostalgia - e virou uma cartilha contra a corrupção. Nos seus tempos áureos, Ribeirão Bonito, de imigração italiana, beneficiava-se do café. Sua população, na época, contava com 25 mil moradores - mais que o dobro do atual número de habitantes. Além da agricultura, surgiam fábricas. Oferecia-se ali um bom nível de educação pública. Muitos saíram da cidade, entraram nas melhores faculdades e se tornaram profissionais de sucesso, respeitados nas suas áreas. Nunca mais voltaram a morar lá. Em 2000, alguns desses profissionais, gratos pela chance educacional que tiveram, começaram a se reunir para revitalizar Ribeirão Bonito, estimulando uma vocação econômica e preservando o patrimônio histórico. Juntaram-se aos moradores e criaram uma associação (Amarribo). Os planos mudaram de rumo. Perceberam que o prefeito vinha dando sinais de enriquecimento incompatível com sua renda. Um dos sinais era um carro de luxo que ele usava. Souberam que seu veículo era de um fornecedor de carne para as escolas. As merendeiras diziam, porém, que quase não havia carne na refeição dos alunos. Descobriu-se também que a prefeitura comprava a gasolina para abastecer a frota oficial numa cidade de Minas, bem longe dali. E por um preço mais caro do que a vendida no posto em frente à prefeitura. Revelou-se assim uma rede de falcatruas. Resolveu-se focar sua ação, naquele momento, no desvio de recursos. Não era uma batalha fácil. A população não estava mobilizada nem interessada; o prefeito controlava quase toda a Câmara e a imprensa. Como o grupo de combatentes era composto de professores, contadores, comunicadores e advogados (um dos advogados é José Chizzotti, procurador aposentado do Estado), montou-se uma operação de guerra: 1) coletaram-se os indícios de desvio de dinheiro; 2) com base nessa coleta consistente, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário foram acionados; 3) furando a barreira da mídia local, divulgaram-se os fatos por meio de panfletos e convocaram-se audiências públicas; 4) diante das evidências e da pressão popular, os vereadores foram sensibilizados para criar uma comissão de investigação na Câmara. O prefeito perdeu o cargo e acabou na cadeia. O mais importante é que se criaram mecanismos permanentes de fiscalização que já resultaram, por exemplo, na redução e melhor aplicação de gastos públicos - a Câmara passou a usar apenas 1,5% do orçamento municipal, sendo que a lei permite até 8%. Desse embate, surgiu uma cartilha para ensinar os cidadãos o passo a passo na prevenção e no combate à corrupção.

P.S. - A fórmula de Ribeirão Bonito contra os sanguessugas não tem mágica. É composta por quatro ingredientes: 1) a qualificação educacional dos indivíduos; 2) a disposição de trabalhar em conjunto em cima de objetivos comuns; 3) sentir-se dono da coisa pública e fiscalizá-la permanentemente, o que exige uma noção de que cidadania é não só direitos mas deveres; 4) não esperar pelas autoridades para que sejam tomadas atitudes moralizadoras. Em qualquer comunidade que use essa receita, a corrupção provavelmente não acabará, mas será muito mais difícil roubar e ficar impune.
*Fragmento do texto Uma vacina contra sanguessugas .,
Artigo publicada por Gilberto Dimenstein - Jornal Folha de São Paulo.

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